Clones eternos com inteligência artificial
Guilherme Silveira
Não é possível automatizar o processo criativo. Essa busca pela aura da criação é um ponto válido sobre a automazição do processo pela qual uma pessoa se expressa.
Seja quando um poeta cria uma poesia, ou quando uma professora cria um exercício, ambos exercem um processo de criação com regras que simultâneamente limitam e expandem suas possibilidades.
Mas ambos são processos explorados no mundo onde produzimos conteúdo em massa.
Portanto, claro que processos criativos são e continuam sendo automatizados.
Pode ser um esportista de elite que vem de milhões de esportistas que não se tornaram de elite, passando por um processo de criação e treino. Pode ser uma nova boyband que é encontrada entre milhares de crianças que passam por um processo fabril antes de se tornarem ídolos. Sejam os episódios repetitivos do Chaves (que eu tanto gostava), as histórias da turma da mônica etc.
São fórmulas repetidas a exaustão. Serem fórmulas e algoritmos repetidos a exaustão por seres humanos não significa que não tenham valor. Tem valor para o público que os admira e justamente por isso peguei os mais diversos exemplos, passando por esporte, educação e entretenimento.
A imagem acima ilustra clones de quê? Artistas? Alunos? Professores? Poetas? Cantoras? O quão estamos nessa realidade e a IA captura mais desse processo versus o quão ela nos libera desse processo, para que cada um seja diferente, produzindo algo que antes não conseguia?
A medida que a IA se torna mais uma ferramenta nesse processo, automatizando parte de tais processos criativos de forma que não conseguíamos antes, passamos a repensar (sim, novamente) qual é a parte humana e qual é mecânica.
Como ambas as partes sempre estiveram presentes no processo, a única coisa que muda é o nosso olhar.
Giselle Beiguelman diz, por exemplo, algo na linha que nos tiram o direito de morrer, ao animarmos fotos de nossos entes antepassados. Ao redefinirmos o que é um registro de uma memória - ao animarmos ela - redefinimos o que é ser humano.
Criar significado continua importante quando pensamos em arte. O desafio é que parte da produção humana não é criada com foco artístico, mas já é sim de forma maquinal.
Isso trás consequências para as indústrias diversas ligadas a produção intelectual de entretenimento. De quem é o direito da voz daquela pessoa? Os direitos da face de Nicolas Cage serão agora utilizados para filmes de Nicolas Cage pelo resto da eternidade, enquanto for interessante ter sua imagem?
A voz de um artista que antes estava limitado pelo alcance de sua vida, passa agora a alcançar a eternidade com novas possibilidades criativas. Sim. E o que acontece com os artistas que tomariam seu lugar? Deixarão de ter espaço no mercado de trabalho? Ou o interesse da humanidade por um/a artista desaparecerá com o tempo, mesmo que tal artista esteja eternizado através de IAs?
Descobriremos.