Ia Criativa
Guilherme Silveira
Seríamos capazes de modelar a essência artística do processo criativo no computador? Os meus resultados seguem.
Comecei com uma ilustração para mapear um processo criativo meu: o artista cria a obra que cria o artista.
Satisfeito parcialmente com o resultado parti para o mapeamento computacional. Em 258 linhas de python, dezenas de decisões criativas e mais de 100 linhas de português e inglês descrevendo tais processos, chego ao mapeamento computacional simples de um processo criativo meu.
Em pouco tempo chego em “Sillicon Valley edtech vai salvar educação”. Surge a crítica ao uso das crianças como experimentos, fonte de dados, presentes para as empresas. Existe a figura religiosa do herói SV, um salvador das crianças, entre outros símbolos presentes na charge.
Já o meu resultado para “moms should be perfect” trás um símbolo que remete a Atlas da mitologia grega.
Não existe só um mundo sendo carregado por elas, são diversos mundos que elas carregam por todos nós. Homens sentados esperam. O uso de símbolos, de analogia, tudo remete a um processo criativo meu, fruto de aprendizados que tive com a artista Cecilia Stelini.
IA Criativa
Cursos de escrita criativa de meu passado abriram portas. Percebi o papel da programação e matemática criativas na minha vida. É hora de redefinirmos a IA criativa como o uso de IA para transformar o processo criativo, além da escrita, da programação e da matemática etc. Pois agora ela não só é ferramenta e transforma o criador, ela é ferramenta, criadora e processo.
Criações
Dou algumas sementes para essa versão do Guilherme digital, que produz indiferentemente diversas artes que eu poderia criar.
Semente: Achar que matemática é fazer contas rápidas de cabeça.
Contra-intuitivo, fazer matemática é ser criativo.
Semente: Comédia devia ser livre.
A risada de uma pessoa ser o sofrimento do próximo. Um contexto pessoal simples do cotidiano mostra a ilusão da liberdade. Queremos a liberdade de rir de tudo ou queremos rir?
Para mim o resultado é claro. Cada uma das charges contem uma linguagem própria minha, que não é da IA. Mas sem ela eu seria incapaz de retratá-las como charges.
Pedi então sementes que viessem de outra pessoa, uma amiga.
Sementes
A semente é o tema. Uma ideia que concordo ou discordo e que gostaria de ilustrar. São os tradicionais prompts de exercícios de prompts. Para fugir de prompts que estavam presente no meu viés atual, pedi para uma colega, a Thais Pianucci.
Egoísmo desmedido (afinal, zero de egoísmos para mim ainda é utopia)
vies inconsciente do machismo_10
Como pode ser visto. A raiz do meu processo criativo continua presente em todas as minhas criações. O Guilherme - humano - continua presente nelas através de seu processo.
A semente é representada através de símbolos e linguagens que eu representaria, mas numa velocidade que eu seria incapaz de produzir fisicamente.
O objetivo aqui não é insinuar que o processo de digitalização de um processo criativo é mais importante que um processo artesanal. O objetivo é mostrar que é possível, e que as criações são honestas e alcançam os objetivos pré-determinados pelo processo.
Meu processo criativo
O processo escolhido é computacional por definição - era o que eu buscava. O processo criativo continua - como sempre esteve - envolvendo passos objetivos, subjetivos, lógica, aleatoriedade e colaboração.
Todos esses são processos passíveis de modelagem computacional.
Hoje desenvolver tal processo requer muito código mas o tempo permitirá simplificar tal uso e é esse papel que devemos buscar para nossos estudantes: como usar a IA de forma criativa, para que em seus processos naturais do dia a dia sejam capazes de criar e encontrar soluções que antes eram impossíveis de serem calculadas em tal vazão.
Conceitos objetivos
Eu gosto de um símbolo em minhas representações. Nem zero, nem dois. Um. É um conceito objetivo. Eu preciso de um símbolo. E é um. Vide Atlas como referência simbólica na imagem das mulheres carregando o mundo.
Ou o abraço acorrentado. Nessa minha obra, o símbolo não é a corrente, mas sim o abraço.
Na computação é fácil validar conceitos objetivos como o de quantidade. Com visão computacional tradicional, ou apis de IA de modelos generativos, podemos obter descrições formais de elementos visuais que podem ser utilizadas nas criações.
Mas tais objetivos também podem ser validados em texto, uma vez que tanto imagem quanto som quanto texto - quando poéticos - seguem uma gramática, a gramática de seu criador.
Note nessa música como peço dois personagens e obtenho dois personagens. Objetivo.
Subjetivo
Eu sou sarcástico e irônico. Quero algo que discuta se “IA é seguro”. São questões subjetivas. Não são binárias em nossas simplificações “seguro ou inseguro”.
Um mundo seguro, falso, é uma ilusão que algumas pessoas vivem em partes do mundo. Não é necessário tecnologia, mundos virtuais ou IA para isso. Como discutir tais mundos virtuais, mundos que tais IAs habitam?
Dada a semente, meu processo em sua aleatoriedade subjetiva dita meu caminho: Árvores e flores lindas desintegram ao vento no parque; uma criança tentando segurá-las, tocando pelo efêmero.
Minha escolha foi essa. Metaversos ilusórios, discutidos em tantos livros e filmes de distopias. Aqui numa felicidade inalcançável. Note o wireframe na parte inferior da imagem, concretamente dizendo que tal mundo é uma ilusão tecnológica.
Subjetivo e objetivo, qualitativo e quantitativo
A separação entre subjetivo e objetivo é tão pobre quanto qualquer outra classificação binária. Qualitativo e quantitativo.
Ser sarcástico pode ser medido quando definimos regras. Tudo é qualidade, tudo é quantidade. Esses dois mundos são cruzados no meu mapeamento computacional, e o resultado é que posso tratá-los de forma uniforme ou não.
Eu opto por permitir a transformação. Meu código permite entradas quantitativas e qualitativas através de inputs generativos das duas formas. Dado a regra do criador, os inputs se comportam de acordo.
Eu devo usar palavras raras. É um outro exemplo. Podemos definir formalmente o que é rara.
Lógica
Algumas decisões artísticas são lógicas. Uma impressora 3d imprime objetos clássicos de impressoras 3d.
Tal lógica pode ser implementada computacionalmente ou através da IA. Eu faço ambas.
Aleatoriedade
Mas o artista pode desejar aleatoriedade. Inclusive argumentos existem de que a aleatoriedade é fundamental para o livre arbítrio, caso contrário o mundo seria determinístico. A definição de aleatoriedade: aquilo que não conseguimos descrever, permite que possamos implementá-la computacionalmente.
Faço uso pesado da aleatoriedade tanto da forma tradicional computacional (números e escolhas aleatórias) como da forma artística (seguindo caminhos aleatórios).
Processo criativos que envolvem passos aleatórios são naturais, e podem ser modelados computacionalmente.
Com aleatoriedade, a impressora deixa de imprimir somente objetos 3d e minha poesia nasce. Aqui a tecnologia é retratada com seus perigos atrvés de possibilidades não necessariamente exploradas por seus criadores. Não é uma crítica superficial do tipo “tecnologia é ruim, natureza é boa”, mas levanta a pergunta se - a cada nova decisão - onde chegaremos é onde queremos chegar.
Na prática do processo criativo computacional, assim como na prática anterior ao uso desse método, são geradas diversas ideias distintas, de acordo com sementes de aleatoriedade. Outra versão da abordagem da tecnologia e seus perigos.
A charge a seguir mostra armas misturadas a brinquedos. Armas que tiram e cores que dão vida.
Colaboração
Processos muitas vezes são colaborativos. O uso de diversos agentes de IA, em um processo de vai e vém, emula o comportamento curador/mentor/cliente com artista.
Agentes são a realidade de hoje, não de um futuro distante. Nos processos criativos eles entram como passos iterativos de criação: adicionando a fricção necessária para os rascunhos virarem desenhos.
Mapeando o processo de outros artistas
Seria possível? Sim, é minha aposta.
Mas o artista não é digital? Continua sendo sim a minha aposta.
Isso pois a aura do artista continua com ele, descrita e simplificada de forma computacional. Tem décadas que o artista configura parâmetros da camêra fotográfica para tirar séries de fotos - e otimiza cada uma delas com fine tuning.
Ou ele escolhe sintetizadores ou instrumentos preferidos, que usa repetidamente em suas obras. Todas essas escolhas são computadas e limitam o artista. E isso nunca foi um problema. Simplificar a liberdade de criação de um artista para N instrumentos musicais não é um problema de criação.
Descrever tais simplificações no computador também não é problema de criação.
O criador continua lá, moldado pelas tecnologias existentes hoje.
O resultado
No meu espaço artístico, continuarei explorando processos criativos que me encantam através das ferramentas que desenvolvi. Quem sabe conseguirei bater meu teste de silveira, aquele que diz que a IA não consegue criar uma mágica genuinamente nova.
O desafio
Encontrar artistas analógicos dispostos a se recriarem digitalmente e colherem os frutos de seus processos criativos computacionais. Não é mais o artista original, mas ele claramente pode ser visto através das obras criadas.
Através das minhas obras nesse post você conhece mais do Guilherme. O mesmo acontecerá de outros artistas.
Meu desafio está posto.